A IA e o Desenho da Essência
Por uma visão aicheriana do futuro do design
Na obra e pensamento de Otl Aicher, o design é sempre mais do que forma. É ética, é clareza, é responsabilidade cultural. Aicher defendia que o designer tem um papel social — um compromisso com a precisão, com a verdade, com o humano. Não era apenas uma questão de estética, mas de essência.
Hoje, esse compromisso é posto à prova pela ascensão das inteligências artificiais. Ferramentas capazes de gerar imagens, compor textos, simular decisões. E a pergunta que paira é inevitável: será a IA uma aliada ou uma ameaça à natureza do design?
Ferramenta ou competidor?
É fácil cair na armadilha da dicotomia: ou se rejeita a IA como usurpadora da criatividade humana, ou se abraça de forma acrítica como o novo génio da lâmpada. Mas Otl Aicher não era homem de extremos. O seu pensamento convida à precisão do olhar e ao rigor do julgamento. E, nesse sentido, talvez valha a pena pensar a IA não como inimiga, mas como espelho.
A IA imita, simula, aprende padrões. Pode executar com velocidade, pode até surpreender. Mas falta-lhe aquilo que Aicher considerava essencial no design: a consciência do contexto, o enraizamento cultural, a intuição afinada pela experiência humana. A IA, por enquanto, não possui Weltanschauung — uma visão do mundo.
O papel do designer não é desenhar
“Design não é arte decorativa. É uma forma de pensamento”, escreveu Aicher. Neste ponto, a IA até pode ser uma aliada preciosa: liberta o designer de tarefas repetitivas, abre espaço para um foco mais profundo no que importa. Permite desenhar com mais eficiência, sim — mas não substitui a necessidade de desenhar com propósito.
A grande questão não é se a IA pode desenhar por nós, mas se pode desenhar com a nossa intenção. Se pode ser dirigida por uma ética, por um sentido de responsabilidade que vai além do output.
Um novo humanismo tecnológico
Na BenjaminFlower, não encaramos a IA como substituto, mas como catalisador. Ferramenta, não competidor. Mas uma ferramenta que exige de nós mais do que destreza técnica: exige clareza moral e cultural. O pensamento de Aicher obriga-nos a manter o foco no essencial — e o essencial, hoje, é garantir que a tecnologia sirva o humano, e não o contrário.
Num mundo em que tudo parece acelerado, a figura de Otl Aicher lembra-nos do valor do tempo, da investigação, do gesto pensado. A IA pode gerar rapidamente mil variações — mas cabe ao designer escolher, editar, recusar. Cabe-lhe manter a integridade do olhar.
Conclusão: o futuro precisa de consciência
A IA é um instrumento poderoso. Mas, como todo o instrumento, só revela o seu valor quando orientado por uma visão. A visão do designer, informado pela cultura, pela ética, pela clareza intelectual, continua a ser insubstituível.
Como Aicher nos ensinou: desenhar é escolher. E a escolha é sempre humana.
